Palavra Pastoral IMeL Saúde 227

6 de Julho de 2024

O risco dos recuos idolátricos e a falta de alegria

Estamos caminhando no capítulo 4 da carta do apóstolo Paulo aos cristãos hj da Galácia. Iniciamos esta jornada vendo como a obra de Jesus Cristo na Cruz nos possibilitou ser aceitos por Deus como filhos, que enviou, ao nosso coração, o Espírito de seu Filho tornando nossa relação com ele algo íntimo. Agora, por meio do Espírito, clamamos Aba, Pai. Antes éramos escravos, agora filhos e herdeiros. 

O texto segue apresentando uma relação de contrastes entre, “antes X agora”.  Relatando a condição anterior de escravos dos supostos deuses (“que, na verdade, nem existem”4:8) que difere da condição atual, de serem conhecidos por Deus. Contudo, nesta nova condição, ao darem ouvidos aos falsos mestres que “distorcem deliberadamente as boas-novas de Cristo (1:7), eles regressam à condição de escravidão, não dos falsos deuses antigos, agora se tornaram escravos pelo fato de confiar na lei para algo que a lei era incapaz de fazer, a saber: justificar alguém diante de Deus. Paulo diz: “sabemos que uma pessoa é declarada justa diante de Deus pela fé em Jesus Cristo, e não pela obediência à lei” (2:16). 

Ao dar um significado para lei fora do propósito para o qual Deus a estabeleceu, eles a transformaram em um ídolo, regressando assim a escravidão de outrora, mudando apenas o tipo de ídolo a que estavam submetidos. Ao constatar este recuo a condição de escravidão idolátrica o apóstolo Paulo lamenta, ele diz: “temo por vocês. Talvez meu árduo trabalho em seu favor tenha sido inútil” (4:11). As implicações práticas deste recuo idolátrico fizeram com que os gálatas se apegassem a guardar dia, meses, estações e anos. Não somente isso, esta nova condição afetou, inclusive, a relação deles com o próprio apóstolo Paulo e comprometeu a vida da comunidade, por já não mais demonstrar a alegria que lhes era característica (4:15).

Ao dar ouvidos a falsos mestres tiveram sua vida espiritual comprometida, a vida comunitária afetada, abraçaram “um caminho diferente que se fez passar pelas boas-novas, mas que não eram boas-novas de maneira nenhuma” (1:6-7). Este perigo de ser levados ao erro pelo tipo de coisa que damos as boas-vindas não se limita ao passado, segue vigente. Ao fazer isso, comprometemos nossa relação com Deus, afetamos nossa vida espiritual, tensionamos a relação comunitária e caímos em “recuos idolátricos”.  

Vivemos num mundo de fácil acesso à informação, a velocidade com que recebemos as notícias quase não dá tempo para processá-las. Se por um lado a velocidade de acesso é uma realidade, por outro lado, a qualidade de processamento das informações está muito comprometida. Corremos o risco de não darmos a devida atenção a tudo o que ouvimos. Queremos tudo mastigado, pronto, curto, de fácil compreensão. Essa realidade pode nos tornar presas fáceis dos falsos mestres, de ensinos enganosos que, no final do dia, podem nos levar a estes recuos idolátricos, com todas as implicações envolvidas neste processo. A maturidade espiritual não pode conviver com superficialidade bíblica, nem é fruto da velocidade da “teologia de internet” (reconhecendo todo o bem que este meio pode nos fazer). Ouvir muitos estudos não nos torna mais espirituais ou maduros na fé, seguimos precisando de Bíblia, oração e vida comunitária para sermos edificados e corrigidos mutuamente. Será que os episódios de perda de alegria na vida cristã não podem estar relacionados ao tipo de ensino que estamos abrigando em nosso coração?

 Ziel Machado