Palavra Pastoral IMeL Saúde 178

22 de Julho de 2023

Discernindo em que tipo de água estamos

Na minha infância meus pais costumavam, de tempos em tempos, fazer um piquenique numa reserva florestal de minha cidade. Nesta reserva tem um rio onde nos era permitido nadar, minhas primeiras lições de natação aconteceram ali. Nadar no rio exigia certos cuidados, as muitas pedras, troncos de árvores que desciam a correnteza. Algumas vezes encontrávamos coisas não muito agradáveis na superfície. Por esta razão o nado exigia manter a cabeça sempre fora da água e, dependendo do sentido do nado (rio acima ou rio abaixo), a força das braçadas e a forma de bater as pernas também mudava.

Próximo dos 10 anos fui para um clube de natação. O professor me perguntou se eu nadava, respondi com segurança que sim. Ele me mandou pular na água para ver como eu nadava. Eu atravessei a piscina “como um Tarzan” (personagem querido da minha infância), nadei com força, como se estivesse num rio. Quase tirei toda água da piscina. O professor me disse: “vejo que você se move na água, mas não nada de forma correta”. Ele me ensinou a nadar com o rosto na água, fazendo a respiração alternando os lados para o qual virava o rosto (dentro da água), precisei aprender a bater a perna sem dobrar o joelho, precisei corrigir minha braçada, aprendi a fazer uma virada olímpica etc. Descobri que o nado na piscina era diferente do nado no rio.

Tempos depois tive permissão para ir à praia em companhia dos meus tios e, na adolescência, com os amigos da igreja. No mar descobri que o nado no rio e o nado da piscina não haviam me preparado para nadar no mar. No mar aprendi a lidar com uma nova situação, as fortes correntezas. Por mais que eu tentasse ir para frente a correnteza me empurrava para dentro do mar. Descobri a necessidade de nadar na diagonal para vencer a correnteza.  Rio, piscina e mar, tudo água, mas com formas distintas de nadar. Cada tipo de ambiente aquático exigia técnicas de nado distintas, exigindo sempre discernir os desafios de cada ambiente.

Como igreja temos o desafio de fazer Jesus Cristo conhecido, mas é importante reconhecer em que “tipo de água” estamos nadando. Corremos o risco de, apesar de nossos esforços, sucumbirmos aos desafios do contexto em que estamos, sem a capacidade de discernir o “tipo de água” em que estamos nadando. O apóstolo Paulo, em sua última carta, adverte ao jovem pastor Timóteo sobre o tipo de “água” na qual ele deveria exercer o seu ministério. Olhe o que ele diz:
“1 Na presença de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos por sua manifestação e por seu Reino, eu o exorto solenemente: 2 Pregue a palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e doutrina. 3 Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, sentindo coceira nos ouvidos, segundo os seus próprios desejos juntarão mestres para si mesmos. 4 Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos. 5 Você, porém, seja sóbrio em tudo, suporte os sofrimentos, faça a obra de um evangelista, cumpra plenamente o seu ministério.” 2 Timóteo 4: 1-5

Qual destes versículos chama mais a tua atenção? Na verdade, temos um conjunto de importantes advertências nestes versículos. Qual deve ser o elemento que corrige a perspectiva do pastoreio de Timóteo? Quais são as prioridades ministeriais de Timóteo? Que advertência de realismo Timóteo recebe de Paulo? O que fazer com aqueles que, motivados por seus próprios desejos, buscam mestres que afirmem o que eles querem ouvir? Qual será o resultado de não corresponder aos desejos dos que estão mais preocupados com as “coceiras de seus ouvidos’? Por que Paulo fala em sofrimento neste contexto de ministério? Qual seria a origem deste sofrimento? Diante do sofrimento e rejeição, como deve ser nossa atitude cristã?

O pragmatismo cultural de nossos dias nos coloca em “águas” desafiadoras. Como podemos ser sensíveis a esta realidade sem comprometer nossa fidelidade ao Evangelho, a Jesus, a Deus, na presença de quem vivemos nossa fé? Até onde podemos ir sem comprometer a clareza do Evangelho? Sem diminuir os desafios que o Evangelho apresenta a esta geração?
É possível que as águas nas quais estamos sendo chamados a nadar nos dias de hoje, sejam diferentes das águas nas quais estávamos acostumados a nadar. Seja qual for a “água” (que estou usando como metáfora para o nosso contexto de obediência cristã), devemos nadar com a consciência clara de que estamos na presença de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos. Somo desafiados a manter a sobriedade em tudo, suportar os sofrimentos, fazer a obra de um evangelista e cumprir plenamente o nosso ministério.

Que o Senhor nos ajude a discernir as “águas” nas quais estamos inseridos e onde somos chamados a dar um testemunho fiel de Cristo, de seu Evangelho.

Ziel Machado