Palavra Pastoral IMeL Saúde 112

9 de Abril de 2022

Recentemente, Anna e eu participamos de uma conferência com o tema Olhe, Ouça, Aprenda! Ouvindo a igreja global. Estar em um salão com outras quatrocentas pessoas, todos encantados por estar lá, todos cantando vigorosamente e de bom ânimo ao Senhor, foi uma fonte de renovação e alegria que nos faltava muito nestes dois anos angustiantes.  Que felicidade renovar a amizade em uma refeição compartilhada, ouvir o burburinho de vozes nos intervalos e fazer novos amigos não pela tela do computador, mas em carne e osso!

No entanto, foi agridoce estarmos juntos após uma separação tão longa: tantas mortes, tanto sofrimento e tantos impactos negativos da pandemia entre nós e ao redor do mundo. Não só a peste estava em nossas mentes, mas também a guerra com notícias terríveis vindas da Ucrânia.

O orador principal foi uma escolha inspirada para esse momento. Rico Villanueva, das Filipinas, nos guiou pelo frequentemente negligenciado livro de Lamentações que, em suas mãos, tornou-se desafiador e relevante. “O que perdemos”, ele nos perguntou, “se apenas cantarmos Tu és fiel, Senhor?”. Falando tanto da experiência pessoal da depressão quanto como membro de uma comunidade marcada pela pobreza, desastres naturais, violência e discriminação, Rico nos confrontou com a necessidade de criar espaço para o lamento em uma igreja muitas vezes dominada pelo louvor. O grande perigo disso é que, quando estamos lidando com um trauma imenso ou uma dor profunda, nos sentimos deslocados entre o povo de Deus — mas isso nunca deveria ser o caso.

Precisamos construir comunidades de cristãos capazes de lamentar: aqueles que recusam o conforto fácil que nos vem dos outros dizendo “o seu sofrimento é nosso”, que ousam perguntar a Deus: “Por quê?” como expressão de nossa intimidade com Ele e que podem viver fielmente em meio à incerteza e à tragédia.

Os líderes da conferência encerraram nosso tempo juntos através da música, escritura, arte e poesia que deram espaço para luto e lamento. Paradoxalmente, achamos muito necessário e muito curativo. Deus esteve presente entre nós em nossa dor e damos graças por isso. Nesta Páscoa, que Deus conceda que sejamos uma comunidade marcada pelo louvor sim, mas também uma comunidade que sabe o que significa lamentar.

Steve Griffiths