Palavra Pastoral IMeL Saúde 111

Ziel Machado nos compartilha a segunda parte de uma reflexão sobre a Quaresma.

Quaresma: fazendo as pazes com nossa fragilidade (Parte 2)
Fragmentos do texto de Mia Kafieris – Whitley College, Austrália

Períodos de 40 dias nas Escrituras reiteram o fato de que Deus se encontra conosco nesses tempos de reconhecimento intencional. Que apesar de 40 dias na arca, 40 anos no deserto ou 40 dias de tentação terem parecido um tempo de solidão, um tempo árido, vazio, intimidador, enfadonho e entorpecente, eles foram o tempo no qual as pessoas se encontraram com Deus e Deus as acompanhou mudando seus caminhos e sua direção. Esses são períodos nos quais as pessoas que passaram por isso saíram deles tendo encontrado a Deus, tendo experimentado Sua presença, e foram transformadas por isso. A Quaresma é a longa caminhada do calendário que traz um sentido pleno ao destino da morte e ressureição de Cristo.

Temos precedentes nas Escrituras para levar essa temporada a sério. Temos boas razões para aceitar o convite da Quaresma, um período para focar na nossa necessidade por Deus e lembrar de nossa absoluta dependência Nele, para que quando a vida fora dessa época nos varrer para os momentos de fragilidade, quebrantamento, medo, limitação, incapacidade, etc., saibamos e lembremos como é que se vive com Deus — já que praticamos isso durante o período da Quaresma.
Acho que se levássemos a Quaresma a sério todo ano, desenvolveríamos esperança, fé, perseverança e constância para quando as coisas ficassem confusas, para os momentos em que não temos controle da situação, para quando temos dúvida e não conseguimos mais continuar. Estaríamos tão treinados a viver e a sentir dessa maneira enquanto caminhamos em direção à Páscoa, em direção à cruz, em direção à Cristo e em direção à ressurreição que poderíamos nos encontrar em situações parecidas fora da Quaresma e poderíamos nos orientar de forma natural na mesma direção, novamente em direção à Páscoa, em direção à Cristo, em direção à ressurreição.

Talvez a Quaresma tenha sido apresentada a você como “uma coisa estranha que os católicos fazem”, e a sua tradição religiosa não tenha muito o costume de praticá-la. Qualquer que seja seu entendimento prévio, seguem alguns pensamentos que podem ser úteis para você nesse período de Quaresma:

• A Quaresma é um período de 40 dias dedicado a reconhecer a nossa necessidade de Deus, geralmente acompanhada por jejum, oração e confissão dessa necessidade.
• A Quaresma é um período de reflexão e autoanálise honestos.
• Essa reflexão e autoanálise levam tempo; tempo para ir além de uma competência e força simulados, tempo para desafiar nossas declaradas autonomia e autossuficiência, tempo para nos colocarmos em uma posição que aceita o amor de Deus e Sua atenção com nossa vida.
• Durante a Quaresma, você pode sentir-se verdadeiramente entediado, vazio e apático — mas isso não significa que você “está fazendo da forma errada”, é exatamente assim que uma vida sem Deus é, não se conforme tão facilmente.
• A Quaresma é o período no qual está permitido abrir totalmente o jogo e admitir sua necessidade por ajuda, ou admitir que você não é quem você tem fingido ser.
• A Quaresma é o período para se recompor e colocar as coisas em ordem, de clamar por ajuda e estar tudo bem, de ficar com raiva e estar tudo bem, de sentir-se magoado e estar tudo bem — é muito bom saber os motivos pelos quais Jesus morreu, de saber que essas coisas não são definitivas e que não estamos sozinhos, no escuro, com nossos fantasmas.
• A Quaresma é o tempo para deixar Deus agir, de fato, na sua vida — apenas tente; apenas veja o que Ele é capaz de fazer com o que quer que seja que você está disposto a oferecer a Ele.
• A Quaresma é o período para tentar confiar em Deus novamente, de tentar orar de forma diferente, de continuar praticando sua fé, de conversar com alguém, qualquer pessoa, sobre seus pensamentos e seus sentimentos em relação ao Divino.
• A Quaresma é a temporada para se dedicar a desmoronar: de rasgar as vestes, colocar cinzas sobre a cabeça, de cobrir o rosto e clamar: “Como assim, Deus?!”
• A Quaresma é quando desafiamos nossos egos, sabendo que em nosso relacionamento com Deus nossos egos são fúteis e inúteis.
• A Quaresma é o período para nos desintoxicarmos de tudo aquilo que acreditávamos nos sustentar.
• A Quaresma é a estranha pausa que não sabíamos estar precisando.
• A Quaresma são 40 dias de lembrar que você é pó, e que ao pó voltará.