Palavra Pastoral IMeL Saúde 137

24 de Setembro de 2022

A voz das urnas e o apelo à integridade

“Diante disso, os supervisores e os sátrapas procuraram motivos para acusar Daniel em sua administração governamental, mas nada conseguiram. Não puderam achar nele falta alguma, pois ele era fiel; não era desonesto nem negligente.” (Dn.6.4)
Em que tipo de urna vamos depositar nossos sonhos para o Brasil? Se por um lado as urnas expressam uma voz de esperança, não deixa de ser intrigante o fato de que, em nosso idioma, urnas também podem significar um pequeno recipiente onde se depositam as cinzas dos mortos, a chamada urna funerária. Quando olhamos para a história vemos que muitas vezes estes diferentes significados da palavra urna se tornam metáforas para expressar o que se passa na vida social de um povo. Aquilo que era expressão de esperança se transforma numa declaração de morte, o voto ali depositado termina por levar à vida pública alguém que, com sua conduta, se torna um “agente funerário da esperança coletiva”. Alguém que “ganha a vida” com a morte.

Não vivemos em um mundo perfeito, e nunca teremos um partido político perfeito, e até o retorno de Cristo, nem mesmo a igreja militante será perfeita, então, o que esperar dos políticos eleitos? As urnas, nas quais foram eleitos, manterão o caráter de esperança até o fim de seus mandatos ou se tornarão urnas funerária? Seus milhares de votos serão transformados em vida ou cinzas? Terminarão seus mandatos como representantes do povo ou como agentes funerários da esperança coletiva? 
Vale a pena lembrar de um jovem exilado, que viveu em circunstâncias completamente adversas e que foi conduzido a uma posição de liderança pública em um mundo repleto de contradições. Ele não contou com organizações políticas ideais, nem teve como chefes modelos de integridade. Ele foi levado a força, junto com seu povo, ao exílio. Teve que aprender outra cultura, outra língua, novos costumes e valores, até o seu nome foi mudado. Devido as circunstâncias, esteve longe do templo do Senhor e do acesso frequente a Palavra do Senhor. Trabalhou para aqueles que oprimiam o seu povo, não somente para um, mas serviu a quatro imperadores maus, líderes que mantiveram seu povo em condição de humilhação, lamentando as margens dos rios da Babilônia, com saudades de Sião.

Este líder enfrentou a ameaça de morte, e viu a morte de frente. Teve que conviver com as tramas e armações políticas palacianas, sofreu a perseguição daqueles que desviavam o dinheiro público e faziam da bajulação uma moeda política. Foram muitas as adversidades na vida privada e pública de Daniel. Ele não viveu em um mundo ideal, mas, no entanto, teve assim registrado a qualidade de seu caráter: “Diante disso, os supervisores e os sátrapas procuraram motivos para acusar Daniel em sua administração governamental, mas nada conseguiram. Não puderam achar nele falta alguma, pois ele era fiel; não era desonesto nem negligente.” (Dn.6.4)
Este modelo de integridade é que esperamos dos políticos eleitos para o próximo mandato, sobretudo daqueles que se apresentam como evangélicos. Não podemos esperar nada menos do que isso; que sejam: fiéis, honestos e diligentes. A voz das urnas clama e demanda integridade!

 Ziel Machado