Palavra Pastoral IMeL Saúde 205

3 de Fevereiro de 2024

O caminho da fé

Neste domingo regressamos a nossa jornada através da carta aos Gálatas. Seguiremos no capítulo 3 onde temos refletido sobre a relação entre a lei e a graça. Como tenho feito em algumas pastorais, aproveito este espaço para introduzir novos autores que trabalharam este tema de forma profunda, isso nos ajuda na compreensão do tema e na formação de um registro de bons autores para leituras posteriores. Hoje, em especial, citarei (de forma adaptada) o professor Dr.Mauro Meister, com quem tive a oportunidade de estudar este tema. Ele é autor do livro Lei e Graça: a compreensão necessária para uma vida de maior santidade e apreço pelas verdades divinas - editora Cultura Cristã, 2003.  

Ele afirma que:
“Estamos sob a lei ou sob a graça? Esta pergunta reflete um dos maiores problemas de interpretação das Escrituras para o novo crente em Cristo e, infelizmente, para muitos crentes antigos também. Ensina-se com muita naturalidade que o Antigo Testamento é aquela parte da Bíblia que corresponde à lei e o Novo Testamento a parte que ensina sobre a graça de Deus. No entanto, essa interpretação, que à primeira vista parece natural, é na verdade, um pensamento falacioso, grandemente enganoso e que traz consigo muitos problemas. Muitos leitores da Bíblia estudam a Bíblia com esta associação: Lei = a Antigo Testamento e Graça= a Novo Testamento.  Mas se o Antigo Testamento é exclusivamente o período da Lei, como responder as seguintes questões:

1) Houve salvação nos tempos do Antigo Testamento?
2) Se houve, como foram salvos os crentes que viveram naquele período já que ninguém, segundo o Novo Testamento, é salvo pelas obras da Lei?

Quem já leu o livro de Hebreus sabe que os “santos” do Antigo Testamento eram, de fato, crentes e salvos pela graça por meio da fé em Cristo. Portanto, certamente, a graça de Deus não é alguma coisa exclusiva do Novo Testamento e ausente no Antigo Testamento. Quando o crente no Antigo Testamento depositava a sua fé em Deus e naquilo que Deus havia ordenado e prometido no Tabernáculo, ele estava dizendo que o seu salvador era Cristo, que a sua redenção estava na obra do Messias prometido. Tenho, às vezes, a impressão de que alguns chegam a pensar que havia uma outra forma de salvação no período do Antigo Testamento, completamente distinta da pessoa de Cristo, ao contrário do que afirma Atos 4: 11-12

“Pois é a respeito desse Jesus que se diz: ‘A pedra que vocês, os construtores, rejeitaram se tornou a pedra angular’. Não há salvação em nenhum outro! Não há nenhum outro nome debaixo do céu, em toda a humanidade, por meio do qual devamos ser salvos”.

Em tempo algum existiu ou existirá salvação fora da pessoa e obra de Cristo! Ao comentar Hebreus 10: 1

“A lei constitui apenas uma sombra, um vislumbre das coisas boas por vir, mas não as coisas boas em si mesmas. Os sacrifícios são repetidos todos os anos, mas nunca puderam purificar inteiramente aqueles que vêm adorar”.

Calvino afirma: “Sob a lei foi apontado em linhas rudes e imperfeitas o que no Evangelho é demonstrado em cores vivas e graficamente distintas... Para ambos o mesmo Cristo é exibido, a mesma justificação, santificação e salvação; e a diferença está apenas na maneira de pintar e demonstrar”

As Escrituras nos foram dadas para serem lidas e entendidas como um todo, e não em partes isoladas e estanques. Uma leitura isolada de textos bíblicos pode levar uma pessoa entender lei e graça como binômio de oposição. Lei e graça parecem opostos, sem reconciliação - o cristão está debaixo da graça e não tem qualquer relação com a lei. No entanto, essa leitura e polarização é falaciosa, enganosa e produz muitos danos a fé.

O crente faz uso da Lei de Deus para compreender como viver e agradá-lo. Como saber o que agrada a Deus? Como viver de acordo com a sua soberana vontade? A resposta dada pelo próprio Senhor é: “aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, este é o que me ama (João 14:21). E qual é o mandamento de Cristo senão o mandamento do próprio Pai? Por isso o texto continua dizendo:.. ”e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele” Porém sem a graça especial e salvadora, o ser humano seria maldito por causa desta mesma lei da qual agora ele se beneficia”. 

Para refletir:

1) Se alguém lhe perguntar: O crente está debaixo da lei ou debaixo da graça? Qual seria a sua resposta?

2) Existia salvação no tempo do Antigo Testamento? Como isso acontecia? Pelas obras da Lei?

3) Em que sentido Cristo é o fim da Lei (Rm 10:4)?

Um forte abraço

 Ziel J.O.Machado