Palavra Pastoral IMeL Saúde 185

9 de Setembro de 2023

Conhecendo os Pais da Igreja: Inácio de Antioquia

Nossos estudos na carta aos Gálatas podem ser muito enriquecidos com as informações da história da igreja. Hoje quero apresentá-los a Inácio de Antioquia. Ele foi bispo de Antioquia da Síria entre 68 e 100 ou 107, discípulo do apóstolo João. Também conheceu São Paulo e foi sucessor de São Pedro na igreja em Antioquia. Segundo o historiador Eusébio de Cesareia, Inácio foi o terceiro bispo de Antioquia da Síria e segundo Orígenes teria sido o segundo bispo da cidade.

Inácio de Antioquia faz parte do grupo de pessoas que a história da igreja reconhece como: Pais da Igreja. Estes cristãos exerceram liderança na igreja entre o final do primeiro século e o final do sexto século, este período é denominado como o “ Cristianismo Patrístico.  Os Pais Apostólicos foram estes líderes cristãos que, após a morte do Apóstolo João, assumem a liderança da igreja (entre 95 e 150 dC). Entre eles temos Clemente de Roma, Inácio de Antioquia e Policarpo (bispo de Esmirna e discípulo do apóstolo João). Nos parágrafos seguintes vou transcrever algumas informações que tenho obtido na leitura do livro Conhecendo os Pais da Igreja: uma introdução evangélica, escrito por Bryan M. Litfin, ed. Vida Nova. 

“O conflito sobre o papel da Lei na vida cristã pode ser visto em um incidente que se desenrolou em Antioquia. Ali a igreja estava acostumada com a íntima comunhão entre judeus e gentios, inclusive com a prática de comer na mesma mesa. Mas então alguns homens chegaram de Jerusalém, defendendo que os cristãos deviam seguir a Lei judaica. Isso significava que os crentes judeus e gentios tinham de se manter separados uns dos outros. Paulo se opôs com veemência a tal legalismo. Sua Epístola aos Gálatas foi escrita de Antioquia por volta desta época com o objetivo de combater essa perigosa teologia. Paulo diz que a adesão a obras cerimoniais é tão tentadora que é fácil ser “enfeitiçado” (Gl.3.1) por elas, abandonando assim o evangelho da graça. Os legalistas que estavam atormentando as igrejas da Galácia também estavam advogando o mesmo tipo de legalismo em Antioquia. Até Pedro e Barnabé foram vítimas do erro deles (Gl 2.11-21). Isso levou o apóstolo Paulo a se opor a Pedro face a face.

O que tudo isso tem a ver com Inácio? Compreender esses antecedentes ajuda a esclarecer questões que ele enfrentou em Antioquia sessenta anos mais tarde. O maduro bispo Inácio foi um devotado discípulo de Paulo,, ensinando que a fé em Jesus Cristo não exigia a adoção da Lei Judaica. Mas os legalistas ainda estavam perturbando a igreja em Antioquia (...), o próprio futuro da religião cristã estava em jogo e, na avaliação de Inácio, a verdade era algo pelo qual valia a pena morrer. Inácio exortou a igreja desta forma: “aprendamos a viver de acordo com os princípios do cristianismo. Pois todo aquele que é chamado por qualquer outro nome além deste não é de Deus. Portanto, deixai de lado o fermento mal, velho e estragado e sede transformados no novo fermento, que é Jesus Cristo (...) É um absurdo professar a Cristo Jesus e seguir o judaísmo”. (Carta de Santo Inácio de Antioquia aos magnésios, disponível em: http://www.veritas.com.br/patristica/obras/1396-carta-de-santo-inacio-de-antioquia-aos-magnesios ).

Para Inácio, “seguir o judaísmo” significava viver de acordo com a Lei, sem reconhecer que ela aponta inevitavelmente para Jesus Cristo como o centro da história da humanidade. Observar a Lei como a base da salvação significava negar o evangelho da graça e rejeitar a essência do cristianismo. Inácio cria que, “se ainda vivemos de acordo com a Lei judaica, reconhecemos que não recebemos a graça”.  É exatamente isso que o apóstolo Paulo havia escrito em Gálatas 5. 2-4

“Prestem atenção! Eu, Paulo, lhes digo: se vocês se deixarem ser circuncidados, Cristo de nada lhes servirá. 3 Volto a dizer: todo aquele que se deixa ser circuncidado deve obedecer a toda a lei. 4 Pois, se vocês procuram tornar-se justos diante de Deus pelo cumprimento da lei, foram separados de Cristo e caíram para longe da graça.

Inácio foi preso e levado ao martírio por causa de sua fé em Jesus Cristo. Ele escreveu 7 cartas às igrejas, e por elas sabemos um pouco mais de seus pensamentos e convicções.  Junto com estas cartas enviou um bilhete a Policarpo (discípulo do apóstolo João), passando a ele a responsabilidade do cuidado pastoral da igreja, onde oferecia sugestões a seu jovem amigo acerca do ministério pastoral piedoso.  De acordo com Ireneu de Lyon, Inácio morreu despedaçado por animais selvagens, diante das massas romanas que se divertiam com o martírio de cristãos.  Enquanto a multidão considerava estas mortes como derrota da fé cristã, Inácio entendia que sua morte era um brado de vitória. Ele escreveu; “Ah! Como é bom ser como o sol que agora se põe neste mundo- pois isso significa que logo me levantarei na presença de Deus!... O verdadeiro poder do cristianismo é descoberto apenas quando é odiado pelo mundo...agora sou um prisioneiro aprendendo o que significa pôr de lado meus desejos, estou apenas começando a entender o que significa ser discípulo.” 

Quantas lições podemos aprender com o testemunho de nossos irmãos e irmãs, em Jesus Cristo, que nos antecederam na fé e hoje são parte da igreja triunfante! Nós, que somos a igreja militante, devemos nos inspirar nestes exemplos de fidelidade a Deus. Ainda hoje, dependendo de onde vivem, ou de posições que ocupam na sociedade, muitos de nossos irmãos e irmãs, enfrentam desafios por causa de sua fé, até mesmo situações onde a vida está sob constante ameaça. Nos unamos a eles na fidelidade ao Evangelho e oremos por suas vidas. 

 Ziel Machado