Palavra Pastoral IMeL Saúde 159
12 de Março de 2023
O pequeno rio
Domingo seguiremos nossa reflexão na carta aos Gálatas. Nesta carta o apóstolo Paulo se opõe, de forma contunde, aos mestres que, dentro da igreja, distorcem deliberadamente as boas novas de Cristo, levando a igreja a rejeitar a graça de Deus, e o poder transformador que ela contém. Afastar-se deste Evangelho da Graça nos leva a nos afastar daquele que nos chamou para si por meio da graça de Cristo, o Deus de graça (Gl1.6). Paulo nos conta o seu próprio testemunho de mudança, um relato de profunda transformação. Ao se entregar àquele que o chamou pela graça, sua vida não somente mudou, ela se tornou uma fonte de benção para muitos. Enquanto pensava sobre isso, li este conto sobre um pequeno rio, que compartilho com vocês.
Disse o rio: " Posso me tornar um grande rio". Esforçou-se muito, mas havia uma grande pedra a atrapalhá-lo. O rio então resolveu: "contornarei essa pedra". O riozinho insistiu e insistiu e, como tinha muita força, conseguiu contornar a pedra.
Logo o rio enfrentou um muro enorme e investiu contra ele sem descanso. No fim, criou um desfiladeiro e esculpiu um caminho por ele. Cada vez maior, o rio disse: "eu consigo. Sou capaz de investir contra meus obstáculos. Não desistirei por nada neste mundo".
Então surgiu uma floresta enorme. Disse o rio: "seguirei em frente de qualquer forma e forçarei essas árvores a caírem". E ele assim o fez.
Agora poderoso, o rio chegou à borda de um deserto enorme, onde o sol fustigava. Disse o rio: " atravessarei esse deserto". Mas a areia quente logo começou a absorver toda sua água. Disse o rio: "oh não. Mas vou conseguir. Atravessarei o deserto". Todavia, o rio logo foi drenado pela areia, até se tornar apenas uma pequena poça de lama.
Então o rio ouviu uma voz do alto: "Entregue-se apenas. Deixe que eu o exalte. Deixe-me assumir o controle".
Ao que o rio proclamou: "aqui estou".
O sol então levantou o rio e o transformou em uma nuvem muito grande. Carregando-o por cima do deserto, permitiu à nuvem chover e deixar os campos longínquos frutíferos e viçosos.
Refletindo sobre esta história Henri Nouwen, fez as seguintes considerações:
“Há um momento em nossa vida em que nos postamos diante do deserto e queremos agir por nossa conta. Mas então a voz nos alcança:
- Chega. Entregue-se. Nesta terra ressequida, eu o farei produzir muitos frutos. Sim, confie em mim. Renda-se a mim. O que conta na sua vida e na minha não são os sucessos, mas os frutos. Os frutos da nossa vida costumam nascer da dor e da nossa vulnerabilidade e perdas. Eles só chegam depois do arado talhar nossa terra. Deus quer que sejamos frutíferos. A questão não é: Quanto ainda posso fazer nos anos que me restam? Mas sim: como posso me preparar para a entrega total de modo que minha vida seja frutífera?
Será que nossa vida se identifica com este pequeno rio? Em que etapa de seu trajeto? Será que estamos confiados em nossa própria força, em nosso próprio mérito? Como respondemos ao convite da graça? Sendo ainda mais pessoal, que transformações a graça de Deus tem operado em sua vida?
Um grande abraço
Ziel Machado
*Este conto está no livro: Uma espiritualidade do viver- Henri Nouwen, ed. Vida, SP, 2018.