Palavra Pastoral IMeL Saúde 152

21 de Janeiro de 2023

Paulo diante dos gentios e dos reis

Ainda surpreso com o que vemos acontecer em nosso país e na igreja evangélica nesses dias, voltei a um documento que escrevi há 10 anos, em 2013, durante o mestrado que fiz na Inglaterra. Era um trabalho sobre a atuação missionária de Paulo na sociedade (“diante dos gentios”) e sua relação com as autoridades da época (“diante dos reis”). O trabalho era um pouco extenso, 20 páginas, mas tomo a liberdade de compartilhar com vocês um trecho da conclusão. Perdão que ainda é longo, mas creio que pode trazer alguns elementos importantes para evitar que percamos o foco nesses tempos estranhos em que vivemos hoje. Boa leitura e qualquer feedback para que sigamos dialogando será bem-vindo!

“Parece que uma conclusão importante deveria ser evitar os reducionismos que consideram Paulo como alguém que estava totalmente comprometido a ser uma parte submissa do regime imperial da época ou que ele era uma espécie de pregador ‘contra imperial’ revolucionário. Seria mais apropriado reconhecer que as lições que podemos extrair de sua própria vida e ensinamentos são um pouco mais complexas, e não tão facilmente adaptadas para reforçar qualquer ideologia política em particular.
 
Quando muitos cristãos na América Latina lutam para lidar com algumas das exortações de Paulo, como são usadas para reforçar a submissão da igreja cristã a alguns regimes opressores e implacáveis, ou em vez disso como uma força por trás de ideologias 'libertadoras', seria útil ver qual era a principal preocupação de Paulo. Ela consistia em lembrar a todos onde estava a autoridade real e geral suprema, através de sua proclamação de Jesus como Cristo e Senhor. Suas ênfases estavam na importância de uma boa conduta, ao fazer ‘o que é bom’. Justiça e retidão eram os propósitos para os quais as autoridades foram designadas em primeiro lugar. Isto deveria ser um claro encorajamento a todos os cristãos, onde quer que estejam, e sob quaisquer circunstâncias, a continuar a lutar para fazer o bem e a buscar a justiça.

Mas também, por outro lado, Paulo parece desafiar aqueles cristãos que buscam a transformação política em primeiro lugar ou como o objetivo principal de nossa atividade missionária. As preocupações de Paulo parecem estar mais concentradas na proclamação do evangelho do Senhor Jesus ao maior número possível de pessoas, a fim de ver muitas serem salvas, através de tudo o que ele pode fazer em prol disso, mesmo à custa de seu bem-estar e conforto. Ele está claramente disposto a sofrer pelo evangelho e espera que isso aconteça a ele e aos cristãos nos diferentes lugares, como resultado de estar identificado com Cristo e sob seu Senhorio.

A comunidade redimida de crentes é chamada a continuar a fazer o bem, a buscar a justiça e a viver de uma maneira digna do evangelho que os alcançou, pois este poder continua a operar em e através de suas vidas. Se isso os levará a sofrer por causa desta última lealdade ao Senhor Jesus e a seu evangelho operando neles, então é necessário suportar pacientemente estes sofrimentos. De uma maneira importante, não é um sofrimento passivo, porque o poder do evangelho continuará a funcionar em nossas vidas através de Cristo para reconciliar consigo mesmo todas as coisas. O que foi exigido de Paulo e é esperado dos cristãos hoje é a obediência ao Senhor Jesus Cristo, seguindo o exemplo de Paulo neste mandato missionário, custe o que custar, ‘proclamando o reino de Deus e ensinando sobre o Senhor Jesus Cristo com toda a ousadia e sem impedimentos’.”

Ricardo Borges