Palavra Pastoral IMeL Saúde 123
25 de Junho de 2022
O CRISTÃO E A POLÍTICA
Decálogo Evangélico do Voto Ético (documento histórico da igreja Evangélica, escrito em 1994)
Introdução
Este texto foi preparado pela Associação Evangélica Brasileira (AEVB), visando contribuir para uma maior conscientização no meio cristão, no sentido de que o voto evangélico não seja manipulado, como tantas vezes têm acontecido.
Estamos divulgando este texto porque julgamos oportuno, num momento eleitoral como o que vivemos em todos os Municípios do País, que a Igreja se porte nessa questão com o máximo de ética e decoro. Como poderemos pedir aos nossos membros, ética e honestidade, se nós mesmos nos envolvermos com apadrinhamentos políticos e venda de votos em troca de favores? Como em tudo o mais, precisamos ser exemplo nessa questão.
Em resumo, o desejo tanto dos autores do texto a seguir, como da liderança desta Comunidade, é ver os pastores brasileiros ensinando o povo a pensar e a decidir por si próprios na questão política, levando em conta propostas sérias que apontem para o bem comum. Queremos colaborar para que terminem tanto o "voto de cabresto", os "currais eleitorais", como a velha ideia de que a Igreja deve eleger pessoas pensando nos seus próprios interesses.
Os "Dez Mandamentos" do Voto Ético
I. O voto é intransferível e inegociável. Com ele o cristão expressa sua consciência como cidadão. Por isso, o voto precisa refletir a compreensão que o cristão tem de seu País, Estado e Município;
II. O cristão não deve violar a sua consciência política. Ele não deve negar sua maneira de ver a realidade social, mesmo que um líder da igreja tente conduzir o voto da comunidade numa outra direção;
III. Os pastores e líderes têm a obrigação de orientar aos fiéis sobre como votar com Ética e com discernimento. No entanto, devem evitar transformar o processo de elucidação política num projeto de manipulação e indução político-partidário;
IV. Os líderes evangélicos devem ser lúcidos e democráticos. Portanto, melhor do que indicar em quem a comunidade deve votar é organizar debates multipartidários, nos quais os vários representantes de correntes políticas possam ser ouvidos sem preconceitos;
V. A diversidade social, econômica e ideológica que caracteriza a igreja evangélica no Brasil deve levar os pastores a não tentar conduzir processos político-partidários dentro da igreja, sob pena de que, em assim fazendo, eles dividam a comunidade em diversos partidos;
VI. Nenhum cristão deve se sentir obrigado a votar em um candidato pelo simples fato de ele se confessar cristão evangélico. Antes disso, os evangélicos devem discernir se os candidatos ditos cristãos são pessoas lúcidas e comprometidos com as causas de justiça e da verdade. E mais: é fundamental que o candidato evangélico queira se eleger para propósitos maiores do que apenas defender os interesses imediatos de um grupo ou de uma denominação evangélica. É obvio que a igreja tem interesses que passam também pela dimensão política. Todavia, é mesquinho e pequeno demais pretender eleger alguém apenas para defender interesses restritos às causas temporais da igreja. Um político evangélico tem que ser, sobretudo, um evangélico na política e não apenas um "despachante" de igrejas.
VII. Os fins não justificam os meios. Portanto, o eleitor cristão não deve jamais aceitar a desculpa de que um político evangélico votou de determinada maneira, apenas porque obteve a promessa de que, em fazendo assim, ele conseguira alguns benefícios para a igreja, sejam rádios, concessões de TV, imóveis, linhas de credito bancário ou outros "trocos", ainda que menores. Conquanto todos assumamos que nos bastidores da política haja acordos e composições de interesse, não se pode, entretanto, admitir que tais "acertos" impliquem a prostituição da consciência de um cristão, mesmo que a "recompensa" seja, aparentemente, muito boa para a expansão da causa evangélica. Afinal, Jesus não aceitou ganhar os "reinos deste mundo" por quaisquer meios. Ele preferiu o caminho da cruz;
VIII. Os eleitores evangélicos devem votar, para Presidente da República sobretudo, baseados em programas de governo, e não apenas em função de "boatos" do tipo:
"O candidato tal é ateu"; ou: "O fulano vai fechar as igrejas"; ou: "O sicrano não vai dar nada para os evangélicos"; ou ainda: "O beltrano é bom porque dará muito para os evangélicos". É bom saber que a Constituição do País não dá a quem quer que seja o poder de limitar a liberdade religiosa de qualquer grupo. Além disso, é valido observar que aqueles que espalham tais boatos, quase sempre, têm a intenção de induzir os votos dos eleitores assustados e impressionados, na direção de um candidato com o qual estejam comprometidos;
IX. Sempre que um eleitor evangélico estiver diante de um impasse do tipo: "o candidato evangélico é ótimo, mas seu partido não é o que eu gosto", é de bom alvitre que se vote nele desde que ele tenha as qualificações para o cargo.
X. Nenhum eleitor evangélico deve se sentir culpado por ter opinião política diferente da de seu pastor ou líder espiritual. O pastor deve ser obedecido em tudo aquilo que ele ensina sobre a Palavra de Deus, de acordo com ela. No entanto, no âmbito político, a opinião do pastor deve ser ouvida apenas como a palavra de um cidadão, e não como uma profecia divina.